Sempre tive uma inquietação enquanto pesquisador, professor de educação física, ciclista “de cotidiano” e entusiasta da bicicleta. Inúmeras vezes fui questionado se era ciclista. Toda vez que abordado sobre isso, me perguntava: “mas o que é ser ciclista?”. Por utilizar a bicicleta diariamente – seja para lazer ou esporte, seja para meio de transporte – passei a conviver com outros “ciclistas de cotidiano” que utilizavam suas bicicletas para diversas atividades, assim como eu.
A partir dessa observação, compreendi que o ciclismo (ou o andar de bicicleta) poderia assumir diferentes manifestações: CICLISMO-LAZER, CICLISMO-TRABALHO, CICLISMO-ESPORTE, CICLISMO MEIO DE TRANSPORTE. Claro que essas expressões têm relações entre elas, podendo aparecer em conjunto, ou derivando uma da outra. A maioria das pessoas aprende a andar de bicicleta por lazer, e partem desse uso para outras possibilidades.
Em Porto Alegre isso é observado pelos diversos grupos de “pedal coletivo” criados e ciclistas nas ciclovias e nos parques; pelos entregadores, mensageiros, fiscais de trânsito e policiais que exercem seu trabalho todo dia; pelo crescente número de atletas que treinam diariamente; além das pessoas que realizam seus deslocamentos diários.
Gosto de olhar a bicicleta como um meio de transporte saudável e ecológico, diretamente atrelado à prática do exercício físico e ao desenvolvimento sustentável. Com um olhar mais macro, a instauração da cultura da bicicleta numa cidade pode abranger pontos como mobilidade, saúde, ambiente e economia, auxiliando na formação de uma cidade mais acessível, democrática e horizontalizada, através de uma maior apropriação dos espaços públicos.
Andar de bicicleta é viver a cidade, é sentir a cidade. Claro que precisamos de mais ciclovias, mais respeito, políticas públicas e reorganizações de trânsito. Mas o fato de a bicicleta ter cada vez um número maior de adeptos só contribui com a certeza de que precisamos continuar olhando a fundo pra isso. Independente da manifestação ou estilo de vida, andar de bicicleta é liberdade. Ou melhor, libertador.
Por Cristiano Ranzolin (Kiko), professor da Giro Bike Experience
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